quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tolerância - Negociando limites

Lidia Muniz é negra. Negra e loira, aliás, como a cantora norte-americana Beyoncé. Ao viajar no começo do ano para um congresso de terapeutas na Califórnia, o estado mais politicamente correto dos Estados Unidos, ela notou que muitas sorriam ao passar por ela, como querendo dizer: “Eu a aceito do jeito que você é. Por mais diferente que você possa parecer do que eu sou, ou do que eu gosto, está tudo certo”. Depois de 15 dias, esse comportamento supostamente gentil começou a lhe dar nos nervos. “Sei que sou diferente, fora do padrão, e que seria normal uma pessoa olhar para mim surpresa, até com certa hostilidade. Aceito esse risco. Mas era terrível suportar essa tolerância infinitamente condescendente que, no fundo, parecia sussurrar ‘olha, minha filha, tudo bem, você é maluca, mas eu, que sou bem legal e tolerante, vou aceitar sua excentricidade, desde que ela não invada os meus limites e você fique na sua, ok?’” Enfim, provavelmente um conveniente verniz social, tão raso que daria para raspar com a unha.

Difícil, não? Até a tolerância empostada pode ser um ato inconsciente de arrogância. Mesmo quando eu, você e talvez o pessoal da Califórnia achamos que estamos sendo tolerantes, podemos esconder debaixo do pano um baita complexo de superioridade e uma indisfarçável prepotência. Ou então, pior ainda, o eterno desejo de sermos sempre fofos, doces e certinhos como o ursinho Puff.

Por isso é que é bom a gente refletir mais profundamente sobre os limites da tolerância, quando ela é real e desejável, ou exagerada e falsa. Ou quando somos tolerantes com os outros e intolerantes conosco, até o ponto de a tolerância virar autoabuso. Ou ainda quando a intolerância fecha nossos olhares e atitudes e nos torna rígidos e inflexíveis. Essa é uma questão cada vez mais presente em nossas vidas. Não dá mais para passar por cima.

Tolerância é uma palavra ingrata na maioria das línguas latinas. Ela traz em seu bojo a ideia de que é preciso aguentar, suportar, enfim, tolerar alguma coisa porque não se tem outra saída. E, já que não tem jeito, já que não dá mesmo, então engolimos o sapo. Toleramos. O verbo, na sua negativa, é igualmente poderoso: “não tolero aquele fulano”, “não tolero que mexam nas minhas coisas”. Ele nos traz uma sensação de irritação, impaciência e até mesmo raiva com outra pessoa ou situação. A ideia é que um limite foi invadido, ultrapassado, e que fiquei louco da vida com isso. Então não tolero.

“Casa de tolerância”, ou bordel, num outro exemplo, é o lugar onde é possível ultrapassar todos os limites, onde tudo é tolerado, inclusive o sofrimento e a humilhação do outro. Vamos combinar, portanto, que, por causa dessa carga emocional, tolerância não é exatamente a palavra adequada para nos dar uma noção de amplidão, de abertura. Algo leve, prazeroso, acolhedor.

Talvez a melhor palavra para dar essa ideia de expansão de limites pessoais fosse abrangência. Eu abranjo, tu abranges, ele abrange. Abro os braços e o incluo como parte de mim mesmo. A primorosa expressão usada para designar o outro pelo povo kakinawá, da Amazônia, por exemplo, é txai. Ela significa amigo, companheiro, mas também “a outra metade de mim”. Txai é aquele que vai me completar e que, juntos, formaremos um só ser. Além de fazer parte de uma música de Milton Nascimento e Maurício Bastos, a palavra txai é a tolerância exercitada em seu melhor sentido: com o sentimento de que somos todos interdependentes. Sem salto alto, sem arrogância, reconhecendo no outro uma contraparte de mim mesmo


Diferente é a mãe


Reinaldo Bulgarelli, autor de Diversos Somos Todos, livro que trata exclusivamente do tema diversidade, escolheu o nome txai para sua pequena empresa de consultoria. Reinaldo trabalhou com crianças indígenas na Amazônia em projetos da Unicef, com o educador pernambucano Paulo Freire junto aos meninos de rua, enfim, passou a maioria dos seus 47 anos envolvido com inclusão social e educação. Mas é interessante conhecer onde e como germinou essa incrível aptidão. Foi em 1978, nas reuniões do movimento de juventude cristã que tinham lugar na igreja Nossa Senhora do Rosário, no largo Paissandu, no centro de São Paulo. Na época, a paróquia congregava uma grande comunidade negra. “Tinha 16 anos e era o único jovem branco por ali”, diz. “Mais do que aprender o que era ser negro, me conscientizei do que era ser branco: os privilégios e oportunidades que tinha, a diferença de tratamento que recebia da sociedade. Antes disso, não tinha a menor noção dessa diferença.”

O abismo que separava as duas realidades foi lição suficiente. Reinaldo resolveu dedicar o resto da vida para lutar pela tolerância à diversidade. “A gente sempre pensa que o diferente é o outro, que tenho de tolerar aquele que é diferente de mim. Esse é um grande engano. Cada um de nós é diferente de alguma maneira. A diferença que está no outro também está em nós, se mudamos o ponto de vista. Não há como nos excluir dessa condição de diversidade, que é própria do ser humano”, afirma Reinaldo.

Hoje, além de coordenador de cursos na Fundação Getúlio Vargas na área de responsabilidade social, ele trabalha com inclusão em empresas. Isto é, depois de sua passagem por elas, aumenta significativamente o número de mulheres em cargos de liderança, abrem-se novos setores que incluem deficientes, propõem-se metas mais efetivas de responsabilidade social. Otimista, Bulgarelli acha que no Brasil nos movemos em uma cultura que, no geral, é flexível e tolerante, para o bem e para o mal. “Vivemos numa sociedade que tem o mito da democracia racial, por exemplo. Se, por um lado, esse mito impede que enfrentemos de uma forma mais realista o que realmente acontece, ele também nos acena com a ideia de que é possível caminhar nessa direção. Há algumas sociedades mais rígidas e conservadoras em que esse tipo de pensamento sequer tem lugar”, diz

Mas também pode ocorrer o contrário: o excesso de tolerância que denuncia passividade, lassidão, a falta de resistência contra o abuso. É o que vamos ver a seguir.


A ira santa


O excesso de tolerância pode gerar o abuso? João Pereira Coutinho, jornalista português que assina uma coluna no jornal Folha de S.Paulo sobre temas políticos e sociais, tem certeza que sim: “O excesso de tolerância pode levar ao pecado capital: tolerar o intolerante, ou seja, aquele que destrói nossa própria tolerância”.

Com palavras precisas, Coutinho delineia questões que sensibilizaram muitos filósofos: até onde é possível tolerar? Qual o princípio que deve nortear minha tolerância? “O princípio do pluralismo, isto é, a ideia de que existem valores e objetivos de vida múltiplos e nem sempre compatíveis”, diz Coutinho. Mas ele adverte: “Porém esse pluralismo não deve ameaçar os valores que eu considero centrais para uma existência digna. Ou seja: posso tolerar que os outros prefiram viver suas vidas de determinadas formas, desde que isso não ponha em causa minha vida e a vida dos outros”.

É o que o filósofo austríaco Karl Popper chama de “o paradoxo da tolerância”: não se pode tolerar o intolerável. “Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância”, sentencia ele numa lógica irretorquível.

E o que é o intolerável? “É aquilo que nos causa dor, sofrimento, prejuízo, indignação, humilhação, e que geralmente é causado por um abuso indiscriminado de poder”, diz a psicoterapeuta Denise Ramos, do Laboratório Formativo do Ser, ligado à linha do psicólogo Stanley Kelleman. Esse é o limite: o que pode ser traduzido por “maus tratos” não deve ser tolerado. E há várias formas de reagir diante daquilo que não conseguimos tolerar. A mais comum é a raiva. “Ela é um alarme que nos acorda para um limite que foi ultrapassado, que nos desperta para uma situação que consideramos abusiva.” Mas nem sempre a raiva precisa, necessariamente, ser direcionada contra quem ultrapassou limite.“Às vezes isso acontece, numa reação imediata e legítima contra o abuso. Mas, no mundo adulto, a energia da raiva também pode ser usada como uma mola propulsora para mudar a si próprio e transformar a circunstância abusiva”, diz Denise.

Porém, mais um cuidado a tomar nesse terreno escorregadio. “Se não se deve tolerar tudo, pois seria destinar a tolerância à sua perda, também não se poderia renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam”, escreveu o filósofo francês André Comte- Sponville em O Tratado das Pequenas Virtudes. Isto é, não se pode ser justo só com os justos, generoso apenas com os generosos, misericordioso com os misericordiosos. Porque isso não é nem justo nem generoso nem misericordioso. “Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como acredito e como geralmente se aceita, ela vale por si mesma, inclusive para com os que não a praticam”, afirma. A tolerância, portanto, não é um objeto de troca num mercado, ou espelho que reflete apenas quem a pratica. Tolerância é abrangência. Temos de nos tornar maiores do que somos para poder praticá-la.


Percepção errônea


Quanto mais nítida a noção de separatividade que tenho de alguém, menos eu sou capaz de ser tolerante com essa pessoa. Pois, afinal, eu sou uma, ela é outra. Para os budistas, enxergar as pessoas e coisas separadas umas das outras é como olhar para um tapete e ver apenas os fios individualmente, sem se dar conta de seu entrelaçamento. “Podemos dizer que a teoria da interdependência, da interconectividade entre os seres, é uma compreensão profunda da realidade. Ter esse ponto de visita reduz a estreiteza mental. Com a mente estreita é mais provável desenvolver apego, aversão”, diz o Dalai-Lama no livro A Sabedoria do Perdão, um saboroso relato sobre o cotidiano do líder tibetano feito por seu amigo, o erudito e bem-humorado professor Victor Chan.

O apego ao que achamos que está certo e a aversão por quem não concorda conosco, ou seja, a estreiteza mental, é a base da intolerância. Por isso é que o filósofo Comte-Sponville afirma que é preciso certa humildade para exercer a abrangência: sabemos que nossas crenças e valores são relativos, subjetivos, parciais. O que acreditamos ser verdade não é uma verdade absoluta, que serve em toda e qualquer condição, e para todas as pessoas. Por isso não podemos impô- la. Achar que o outro não pode pensar diferente é o retrato acabado da intolerância, do totalitarismo e do fundamentalismo. Também é por isso que a intolerância está sempre associada à arrogância e à prepotência. É melhor dar uma paradinha, quando achamos que sabemos o que é melhor para o outro. Pois ele tem o direito de não concordar.

Teoria e prática


Gandhi foi absolutamente intransigente e firme em sua posição contra o domínio britânico na Índia. Porém, em vez de lutar abertamente, com ódio no coração e derramamento de sangue, preferiu exercitar a resistência não-violenta, baseada na mobilização social e na pressão política. Além de hábil e inteligente, ele tinha abrangência, isto é, uma clara visão de estadista. Entendeu que a resistência pacífica pode ser tão ativa e eficaz quanto uma revolução.

Um presidente do Brasil, Fernando Collor, foi deposto a partir da mobilização pacífica ensinada por Gandhi: os estudantes secundaristas espernearam, bateram o pé, e a sociedade voltou a atenção para eles. Ou seja, a intolerância pode ser combatida com firmeza de posições, manifestações de repúdio e uma pronta reação. E certamente essa não é a posição fofinha do ursinho Puff. É muito importante entender que tolerar não quer dizer ser passivo, indiferente, omisso. “Tolerar Hitler era ser seu cúmplice, pelo menos por omissão, por abandono, e essa tolerância já era colaboração”, acrescenta Comte-Sponville.

“A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência”, afirma claramente em seu primeiro parágrafo a famosa Declaração de Princípios sobre a Tolerância promulgada pela Unesco. É bom a gente não se confundir.

Essas grandes questões também podem ser vividas no dia a dia. Uma das pessoas que mais colaboraram para o estímulo à tolerância no Brasil é a professora Lia Diskin, uma das criadoras da Associação Palas Athena, um centro de referência (sediado em São Paulo) com relação ao estudo desses temas. Os maiores eventos relacionados à cultura de paz dos últimos 30 anos no país tiveram sua participação direta ou presença. Mas nada disso teria valor se ela não aplicasse esses conceitos em seu dia a dia. E aqui gostaria de dar meu testemunho pessoal. Com tolerância, Lia Diskin me recebeu para entrevistasrelâmpago, sabendo de meus prazos estreitos (uma realidade diária no jornalismo) e urgência, mesmo tendo sua mesa repleta de inúmeras questões pendentes. Pessoa ocupadíssima, Lia Diskin nunca deixou de responder meus e-mails, por exemplo, sobre o sentido mais profundo do meu nome budista. Não raro entrei em sua sala sorrateiramente a fim de roubar seu tempo para esclarecer dúvidas pessoais com relação ao cristianismo e ao budismo ou para comentar a fala mais profunda de um entrevistado recente. Mesmo quando foi firme – e quem trabalha com ela sabe o quanto Lia Diskin pode ser severa –, nunca deixou de mandar seu cálido abraço na última linha do e-mail. “Um grande amor pela humanidade, e sua consequente tolerância e compaixão por todos os seres, é capaz de mover cada um dos pequenos atos de uma pessoa no seu dia a dia. É a união final entre a teoria e a prática”, afirma a psicoterapeuta Denise Ramos. Se isso foi possível para Lia Diskin, que se crê tão falha, humana e cheia de defeitos, isso significa que a porta está aberta para cada um de nós.


Fonte: Revista Vida Simples

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A FORÇA DA MENTE

O cérebro bem usado melhora com o tempo,estica a vida útil e previne as doenças da velhice.

Antes de continuar a leitura desta reportagem, pare um instante e olhe a sua volta. O mundo que você vê é real ou imaginário? A luz que se projeta a seu redor seria observada e sentida da mesma forma se você não estivesse aqui? As cores fariam algum sentido se alguém não as pudesse observar, catalogar e interpretar? Os sons produziriam o mesmo efeito se não existissem ouvidos para captá-los? O frio ou o calor teriam alguma importância na ordem geral do universo se não fosse você que os estivesse sentindo? Tudo que você vê, ouve e sente reflete o mundo exterior. A forma como alguém percebe, interpreta ou reage a isso, no entanto, é pura criação do cérebro, a mais maravilhosa e elaborada produção da vida na Terra. "O que o cérebro faz o tempo todo, dormindo ou acordado, é criar imagens", diz o neurocientista Rodolfo Llinas, da Universidade de Nova York. "Luz nada mais é do que radiação eletromagnética. Cores não existem fora de nossa mente. Nem os sons. O som é um produto da relação entre uma vibração externa e o cérebro. Se não existisse cérebro, não haveria som, nem cores, nem luz, nem escuridão."

Desde que os seres humanos adquiriram a capacidade de pensar sobre sua própria existência, o cérebro é um desafio permanente ao entendimento. Aristóteles, o filósofo grego que viveu 350 anos antes de Cristo, acreditava que o pensamento vinha de um órgão quente e pulsante: o coração. Para ele, o cérebro servia apenas para refrigerar o organismo. Foi mais ou menos assim que a mente humana foi explicada durante milênios. No século XVIII, graças ao trabalho do cientista italiano Luigi Galvani, provou-se que os músculos se moviam por descargas elétricas — e que o cérebro podia produzi-las. Desde então, desvendar os segredos da mente tem sido uma das mais extraordinárias aventuras humanas. Nada se compara, porém, aos avanços obtidos nessa área nos últimos anos. Uma infinidade de novas descobertas, feitas em laboratórios e centros de estudos ao redor do mundo, tem revelado o cérebro como um órgão mais fascinante, complexo e poderoso do que antes se imaginava.


Descobriu-se que, ao contrário dos outros órgãos do corpo humano, ele pode melhorar seu desempenho durante a vida. A única exigência é que seja permanentemente treinado e exercitado em atividades intelectuais. "Atualmente, as pessoas vivem obcecadas com ginástica, dietas e atividades para melhorar a saúde do corpo, mas pouca gente imagina que o cérebro também deve ser exercitado o tempo todo", escreveu o grande mestre em xadrez Raymond Keene num artigo recente para a revista britânica The Spectator. "A melhor maneira de viver mais e melhor é botar o cérebro para trabalhar."


Vida mais longa — O cérebro bem estimulado em tarefas como leitura, aprendizado de novas línguas, resolução de problemas matemáticos ou mesmo em tarefas rotineiras no trabalho pode esticar a longevidade de uma pessoa e evitar que ela sofra de problemas típicos da velhice, como a senilidade e a perda de memória. Uma pesquisa realizada entre pacientes com mais de 65 anos, todos de um mesmo bairro e mesma classe social, no Hospital Francês de Buenos Aires, revelou que 38% deles tinham desenvolvido o mal de Alzheimer, doença degenerativa que apaga mecanismos da memória coordenadores de movimentos naturais, como os da locomoção. Esse índice, contudo, caía para apenas 7% entre os pacientes com nível de instrução universitário. Quanto mais informação útil é armazenada no cérebro, melhor é seu desempenho. Maior também é o benefício que ele leva a todo o resto do organismo ao qual está ligado. "O cérebro é uma máquina para usar e gastar", diz o professor Ivan Izquierdo, especialista no estudo da memória do departamento de bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. "Quem estuda ou tem uma vida intelectualmente ativa vive melhor e geralmente mais." O uso adequado das potencialidades do cérebro também pode multiplicar muitas vezes a capacidade de aprendizado de uma criança, melhorar o desempenho de uma pessoa no emprego e aprimorar seus vínculos familiares e sociais.

O cérebro é uma máquina maravilhosa que desempenha múltiplas tarefas biológicas. Pesando pouco mais de 1 quilo e representando apenas 2% do peso total de um homem adulto, ele gasta 20% de toda a energia despendida no corpo. Entre uma orelha e outra de uma pessoa, estima-se que existam mais conexões neurológicas do que estrelas na Via Láctea. Se alguém tentasse contar essas conexões, chamadas de neurônios, gastando um segundo em cada uma delas, levaria 32 milhões de anos para concluir a tarefa. É o cérebro que comanda as funções que asseguram a reprodução e a sobrevivência da espécie. Pense na batida inconsciente do coração, nas pálpebras piscando, na respiração contínua dos pulmões, nos alimentos sendo processados pelos intestinos, numa perna que se move. Tudo isso é organizado e dirigido pelo cérebro. Pense nas suas emoções, na atração sexual, no amor entre pais e filhos, nos sonhos e pensamentos. Eles também são produtos do cérebro. Sua missão mais elementar é recolher os estímulos externos, captados pelos sentidos, e transformá-los em impulsos elétricos que percorrem os neurônios. Toda essa informação é catalogada e arquivada na memória. É a ela que o cérebro recorre quando precisa tomar decisões, comandar os movimentos corporais e organizar o pensamento.


Aparato tecnológico — O cérebro humano, no entanto, é mais que isso. É a única criação conhecida do universo que tem a capacidade e a tarefa de desvendar-se a si mesma. "Penso, logo existo", afirmou o filósofo René Descartes, no século XVII, o primeiro a concluir que a consciência, decorrente da atividade cerebral, era a prova primordial da existência do ser humano. Desde que a vida surgiu na Terra, há cerca de 3,5 bilhões de anos, milhões e milhões de espécies surgiram, evoluíram ou desapareceram da face do planeta. Nenhuma desenvolveu uma ferramenta biológica tão sofisticada quanto o cérebro humano. Alguns cientistas acreditam que, estatisticamente, ele é uma ocorrência raríssima. Tão rara que tornaria improvável a existência de seres inteligentes em outras regiões do universo. "O aparecimento de vida inteligente na Terra foi muito mais difícil do que os cientistas sempre imaginaram", escreveu Ernst Mayr, veterano professor da universidade americana Harvard, considerado o maior biólogo vivo, autor de um livro essencial sobre a evolução das espécies (The Growth of Biological Thought). "Só isso já deveria desestimular qualquer idéia a respeito de inteligência extraterrestre", afirma Mayr.

As novas descobertas, que permitem a melhor compreensão de como funciona o cérebro e como pode ser melhorado, devem-se ao impressionante aparato tecnológico desenvolvido pela ciência nos últimos anos. São aparelhos que "lêem" o pensamento pela medição do fluxo sanguíneo e dos impulsos elétricos que trafegam pelos neurônios. Drogas que conseguem congelar determinada atividade cerebral numa cobaia, de modo que os pesquisadores possam dissecá-la para entender como se processou. Técnicas refinadas de microbiologia, que permitem analisar cada uma das estruturas microscópicas dos neurônios. Análises genéticas, usadas para estudar a evolução do órgão nas diferentes espécies vivas. O resultado da soma de tudo isso é espetacular. "Finalmente estamos entrando dentro do cérebro", diz o professor Gilberto Xavier, do departamento de fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. "Para a ciência, a década de 90 está sendo a das descobertas sobre o cérebro. E acredito que o século XXI deverá ser o século cerebral."


O desenvolvimento natural do cérebro se dá na mais tenra infância. Até os 8 anos, a criança já possui conectados 90% dos neurônios que carregará ao longo da vida. Aos 17 anos de idade, o cérebro humano atinge os 100% do seu estágio de crescimento. No entanto, estima-se que apenas 30% da capacidade intelectual das pessoas seja inata, determinada pela herança genética. Os outros 70% vêm do uso e do aprendizado. Isso significa que, assim como existem seres humanos mais altos ou mais velozes, existem pessoas com maior capacidade orgânica cerebral. É isso que faz a diferença entre uma pessoa mais inteligente e outra menos. O cérebro tem milhões e milhões de células conectadas, entre si, por neurônios — os microscópicos filamentos nervosos que conduzem os sinais elétricos. Cada neurônio pode ligar-se a outras 100000 terminações como ele. O número de combinações possíveis pode chegar quase ao infinito. As conexões entre os neurônios, por onde passa a informação cerebral, são chamadas de sinapses. Quanto maior for seu número, mais inteligente a pessoa será. "É a capacidade humana de produzir essas combinações, a partir de dados registrados no cérebro, que podemos chamar de inteligência", diz o fisiologista Gilberto Xavier, da Universidade de São Paulo.


Até algum tempo atrás, imaginava-se que um cérebro jovem, em sua plena vitalidade biológica, fosse muito mais poderoso e criativo do que um outro já maduro e desgastado pela idade. A matemática fornecia o maior dos argumentos para os defensores dessa teoria: quase todas as grandes equações matemáticas foram propostas ou decifradas por gente com menos de 30 anos. Albert Einstein tinha apenas 26 anos quando apresentou sua teoria geral da relatividade — a mais revolucionária de todas as elaborações matemáticas, que lhe valeu o Prêmio Nobel de Física, quinze anos depois. O argumento é forte, mas ele se baseia numa idéia ultrapassada a respeito da mente humana. As novas descobertas estão mostrando que a inteligência não se limita à capacidade de raciocínio lógico, necessária para propor ou resolver uma complicada equação matemática. Os testes de QI, um dos antigos parâmetros usados para medir a inteligência, já não servem mais para avaliar a capacidade cerebral de uma pessoa.


Inteligência emocional — A inteligência é muito mais que isso. É uma soma inacreditável de fatores, que inclui até os emocionais. Uma pessoa excessivamente tímida ou muito agressiva terá sempre problemas para conseguir um bom emprego, ascender na profissão ou ter bom relacionamento familiar, por maior que seja seu QI. O que os novos estudos estão mostrando é que um cérebro jovem tende, sim, a ser mais inovador e revolucionário. Mas, como um bom vinho ou uma boa idéia, ele também pode amadurecer e melhorar com o tempo. Basta ser estimulado e exercitado. A ciência, a arte e a literatura estão repletas de exemplos. Charles Darwin viajou para as ilhas do Pacífico em busca de uma explicação para a evolução dos seres vivos quando tinha apenas 22 anos. Mas só muito mais tarde, aos 55 anos, publicou A Origem das Espécies, obra que revolucionou o estudo da biologia e a compreensão da vida na Terra. Karl Marx tinha 26 anos quando publicou suas primeiras idéias num estudo chamado Manuscritos Econômicos e Filosóficos. Só duas décadas mais tarde, porém, com 49 anos, concluiu sua obra-prima, O Capital. Da mesma forma, Leonardo da Vinci começou a desenvolver sua genialidade ainda jovem, em Florença. Só aos 54 anos, contudo, criou a Mona Lisa, sua mais célebre pintura, mesma época em que fez vários de seus inventos e estudos sobre a anatomia humana. "Isso explica por que muitos escritores atingem o auge de sua carreira justamente no fim da vida", afirma Gilberto Xavier, da USP. "É o caso do argentino Jorge Luis Borges, que alguns anos antes de morrer estava no auge da sua capacidade criadora."


Numa pessoa intelectualmente ativa, o cérebro pode melhorar cada vez mais. Numa outra, que não lê, não estuda, não trabalha nem se envolve em atividade desafiadora para a mente, ocorre o oposto. O cérebro decai e envelhece, como qualquer outra parte do corpo não utilizada. "Uma mente sem uso se deteriora tanto quanto uma perna que não se exercita", diz o chefe do Departamento de Gerontologia da Universidade George Washington, Gene Cohen. Há pesquisas curiosas a esse respeito. Pessoas que trabalham e saem de férias por uma semana ao retornar mantêm praticamente intacto o número de sinapses cerebrais associadas às atividades no trabalho. Quando as férias são mais longas que um mês, no entanto, a queda é expressiva. Isso explica aquela sensação de preguiça que toma conta das pessoas ao final de férias mais prolongadas. Ao retornar ao trabalho, o cérebro precisa ser reeducado e exercitado novamente para recuperar o desempenho perdido. Isso também explica por que pessoas que se aposentam e não se dedicam a nenhuma outra atividade estimulante muitas vezes envelhecem e até morrem precocemente.


Atividades complexas ou inovadoras são a melhor forma de exercitar o cérebro. Jogar xadrez sempre foi considerado um bom exercício cerebral, porque exige concentração e capacidade de inventar saídas para novas situações. Outra maneira apontada pelos especialistas é a leitura. "Quando alguém lê, está criando novas imagens, aprendendo novos conceitos e até exercitando a fala", diz Ivan Izquierdo, da UFRGS. "Enquanto as pessoas lêem, músculos da língua quase imperceptivelmente se mexem." Para expandir as ligações cerebrais, o ideal é não desistir da leitura de textos um pouco mais complicados. Outra maneira é viajar para lugares desconhecidos e surpreendentes. Até mesmo arrumar os móveis da casa de outra forma é uma tarefa estimulante para a atividade cerebral. Poucas experiências são tão desafiadoras para o intelecto quando aprender uma nova língua. Ela provoca uma reação em cadeia no cérebro, que se vê convidado a criar novas combinações para decifrar e armazenar palavras até então desconhecidas. São essas novas conexões, geradas pelo desafio diante da novidade, que aumentam a capacidade do intelecto de trocar informações consigo mesmo.


Alargar fronteiras — Numa pesquisa recente feita nos Estados Unidos, o neurocirurgião George Ojemann, da Universidade de Washington, mediu com eletrodos reações cerebrais em pessoas bilíngües. Primeiro, pediu que elas pensassem determinadas palavras em diferentes idiomas sem pronunciá-las. Depois, propôs que repetissem a experiência lendo essas mesmas palavras em silêncio e repetindo-as em voz alta. Em cada etapa da experiência, os neurônios ativados pelo cérebro eram diferentes. A mesma palavra pensada, lida e repetida em voz alta em inglês e espanhol, por exemplo, gera seis diferentes respostas no cérebro. "O mesmo neurônio que é ativado quando se ouve uma palavra não reage quando ela é pronunciada em voz alta", explicou Ojemann. A conclusão é óbvia: uma pessoa alfabetizada e poliglota, que consiga ler e falar em diferentes idiomas, tem uma capacidade cerebral multiplicada várias vezes em relação a outra, analfabeta, que mal consiga expressar-se verbalmente num único idioma. Estudar, portanto, é a forma mais eficiente de alargar as fronteiras da mente humana.


O avanço nos estudos sobre o cérebro já permite à medicina grandes vitórias no tratamento de vários problemas e doenças. Antigamente, acreditava-se que cada tipo de informação ou função cerebral era concentrado em uma região particular do cérebro. Hoje, sabe-se que cada célula pode desempenhar múltiplas funções, embora haja alguma especialização. Dados ligados à emoção são mais armazenados no hemisfério direito do cérebro, enquanto os ligados à razão e à linguagem ficam do lado esquerdo. Mas sua maleabilidade permite a adaptação a situações imprevistas, como uma lesão decorrente de um acidente. Um caso exemplar é o do locutor Osmar Santos, que perdeu parte da massa encefálica numa trombada de automóvel, em 1994. Hoje, graças a exercícios específicos para recuperar a atividade cerebral, ele já se comunica por gestos e até recobrou um vocabulário incipiente. "O cérebro é adaptável e capaz de se reorganizar", diz o neurocirurgião Jorge Pagura, atual secretário de Saúde do município de São Paulo, que participou do tratamento de Osmar. "Quando parte dele sofre algum tipo de lesão, outras áreas passam a compensar a falha."


O maior salto científico, no entanto, está no terreno da memória, a ferramenta mais essencial do cérebro. Antes também se acreditava que a memória de longo prazo e a recente eram formadas em lugares distintos do cérebro. Uma outra teoria sustentava que a memória de longo prazo seria um resquício da memória recente. Estudos realizados pela equipe do professor Ivan Izquierdo, no Rio Grande do Sul, que estão sendo publicados numa série de artigos na revista científica britânica Nature, chegaram a uma conclusão diferente. Eles mostram que ambos os tipos de memória se formam nas mesmas células, mas de forma independente. O cérebro cria uma memória que dura apenas seis horas, para o caso de precisar da informação logo em seguida. E cria outra que pode perdurar a vida inteira. São registros vivos, impressos nas proteínas que formam o conteúdo das células. Eles vão se modificando com o tempo. "O cérebro é essencialmente dinâmico e funciona como uma biblioteca onde sempre cabem mais livros", explica Cláudio Guimarães, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. A memória é capaz de descartar dados considerados irrelevantes, ou resgatar dados praticamente perdidos quando eles se tornam cruciais. "Quanto mais informações são ali armazenadas, mais ágil o cérebro se torna para localizar o estoque antigo", diz Guimarães. O melhor conselho para quem quer turbinar o próprio cérebro, portanto, é: use e abuse.



Fonte: Por Thales Guaracy e Cristina Ramalho/Revista Veja

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Quais são as cinco maiores novidades/tendências em tecnologia para empresas hoje em dia?

(Pergunta de Alexandre Hadade, sócio da Arizona, empresa de gestão de marcas e automatização dos processos de comunicação e marketing)


Web 2.0
A principal característica dos momentos de crise é, sem sombra de dúvida, a incerteza com relação à condição atual e ao futuro dos negócios. No cenário, ganha ainda mais importância a Web 2.0, a internet mais interativa, que integra consumidores e empresas através de wikis, blogs e redes sociais. Afinal, além de garantir a transparência e maior fluxo de informação com clientes, funcionários e parceiros, a nova geração da internet também reduz custos da comunicação.

Mobilidade
A integração de internet banda larga com telefone celular contribui para o aumento da produtividade do negócio. Isso ocorre não apenas pelo uso por parte dos funcionários de uma empresa, mas por possibilitar a oferta de conteúdo a clientes via smartphone, por exemplo.

Tecnologia verde
A substituição de equipamentos antigos por novos, que consomem menos energia, reduz o impacto ambiental e o custo com a manutenção da infra-estrutura geral.

Vídeo-conferência e VoIP
Embora já sejam soluções conhecidas há bastante tempo, ganham novo destaque neste momento em função da rápida e significativa redução de custos de comunicação que proporcionam.

TI como serviço
Consiste na contratação de serviços de TI, como gerenciamento da infra-estrutura (servidore, PC, software, LAN, WAB, segurança, etc) e cloud computing, que é a migração de servidores internos para espaços virtuais. A vantagem está na maior facilidade de implementação e gestão de máquinas virtuais e na alocação dinâmica de recursos, evitando despesas com capacidade ociosa de armazenagem e processamento.

(Resposta de Álvaro Leal, consultor da IT Data)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Oito tecnologias para mudar sua vida

Matéria que recebi, pela minha inscrição no CRA, através de email pelo clippingnews, do autor abaixo mencionado na fonte e devidamente creditado.


"Resolvi transcrever aqui no blog as tecnologias que podem mudar como vemos e interagimos com o mundo nos próximos anos.Quando é sempre uma incógnita. A ciência que estuda isso se chama ?métrica preditiva? e erra, e como erra.Erra-se ao superestimar recursos e erra-se em subestimar.Isso desde sempre, e na tecnologia desde 1890 quando o Rei da Inglaterra decidiu não investir em telefonia porque a Inglaterra tinha carteiros o suficiente.Vamos a elas numa lista sem muitas de longas:


- PLC, BPLParece mais um conjunto de siglas, mas são desdobramentos de uma mesma tecnologia que já está por aqui faz um bom tempo- Powerline connection, Broadband Over Powerlines.Em poucas palavras, trata-se de usar a infra-estrutura elétrica para trafegar dados diversos. Falo de automação doméstica, controle de trânsito, banda larga usando uma infra já existente.


- FastTCPO bom e velho TCP é o protocolo que faz os dados da internet trafegarem pra lá e pra cá. O FastTCP faz a mesma coisa, só que de uma maneira optimizada, permitindo velocidades bem maiores. Usando, poderíamos ter conexões web de 350Mbps ao invés de 2 ou 4 Mbps.


- Realidade aumentadaEngatinha, vemos uma ou outra ação publicitária. Mas enxergo isso em conjunto com outras tecnologias de telas como a grande sacada para a Arquitetura e engenharia.Imagine você arquiteto, levando o seu cliente até seu terreno baldio e usar realidade aumentada para mostrar uma casa já planejada, ali no ambiente real. Realidade aumentada funde o ambiente real com elementos virtuais em 3D.

- CellEsse é processador do Playstation 3, da Cell TV da Toshiba, dos novos supercomputadores da IBM. Não preciso nem dizer que ele é o prenúncio de jogos mais realistas e porque não, você mesmo como personagem dos games. Só faltava processador adequado. Já existe.

- Comunicação multi línguasSe você pode ter grande volume de dados em um dispositivo portátil e pode ter um processador capaz de comparar padrões com velocidade alta, porque você vai passar oito anos estudando mandarim para fazer negócio com chineses? Fale português e a tecnologia versiona o mandarim, o chinês fala e a tecnologia traduz para você. Simples como uma tradução simultânea sem o intérprete a tiracolo.


-Web 3.0Web semântica, web 3D, nada disso é besteira como tentam apregoar os perpetuadores de dogmas. Já está em tempo de haver formas mais inteligentes de se pesquisar na internet. Se eu quero achar "uma casa em Cotia, perto do Rodoanel, que custe perto de 300.000, com segurança e escola para as crianças", é isso que eu deveria digitar e obter resultados, e não passar a vida procurando em dezenas de sites toscos e mal feitos.


-USB 3.0Não só transferir arquivos em 5Gbps, também que seja amplamente sem fio, que se carreguem dispositivos de maneira wireless. Já existe.


-RFIDMuito tem sido pesquisado e divulgado, são as etiquetas inteligentes, que se comunica com sistemas que sejam acessíveis a você.


Não há coisa mais ridícula do ir a um supermercado, encher um carrinho, esvaziar o carrinho no caixa, encher o carrinho novamente, esvaziar o carrinho no carro, esvaziar o carrinho no prédio, encher o carrinho do prédio, esvaziar o carrinho em casa. No mínimo eliminaríamos a etapa da fila do caixa. O carrinho com etiquetas inteligentes passa sem necessidade de esvaziá-lo, na melhor das hipóteses, até tua geladeira gerenciaria seus suprimentos e dispararia pedidos. Bichos, floresta, tudo pode ter etiquetas inteligentes.Nada disso dá pra prever quando será de uso corriqueiro. Depende de demanda, de legislação, de cultura, de segurança de interesses político-financeiros, e de mais uma miríade de fatores que nem vale à pena relacionar. Mas uma coisa é fato, o mundo bem mais legal de se viver já existe, basta implementar.No fundo o que falta mesmo é mudar a ciência financeira. Se o acúmulo de dinheiro parar de ter a importância que tem e viver melhor passar a ser o foco, as coisas mudam rapidamente.Eu chamei de 2016 e poderia passar a tarde contando como cada uma dessas tecnologias pode se fundir, formando outras e outras..."

Fonte: Blog Ponto Gadget por Osmar Lazarini