quarta-feira, 31 de março de 2010

Entrevista: Nora Volkow "Não existe droga segura"


A diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas afirma que nem mesmo a maconha nem muito menos a DMT, presente no chá do Santo Daime, podem ser consideradas inofensivas

"Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva. Trata-se de um erro. Comprovadamente, ela tem efeitos bastante danosos"
 
A psiquiatra mexicana Nora Volkow, 54 anos, é uma das mais importantes pesquisadoras sobre drogas no mundo. Quando, porém, o assunto são os danos neurobiológicos que essas substâncias causam, Volkow pode ser considerada a número 1. Foi a psiquiatra quem primeiro usou a tomografia para comprovar as consequências do uso de drogas no cérebro e foi também ela quem, nos anos 80, mostrou que, ao contrário do que se pensava até então, a cocaína é, sim, capaz de viciar. Desde 2003 na direção do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow esteve no Brasil na semana passada para uma palestra na Universidade Federal de São Paulo. Dias antes de chegar, falou a VEJA, por telefone, de seu escritório em Rockville, próximo a Washington.

Há quinze dias, um cartunista brasileiro e seu filho foram mortos por um jovem com sintomas de esquizofrenia e que usava constantemente maconha e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um chá conhecido como Santo Daime. Que efeitos essas drogas têm sobre um cérebro esquizofrênico? Portadores de esquizofrenia têm propensão à paranoia, e tanto a maconha quanto a DMT (presente no chá do Santo Daime) agravam esse sintoma, além de aumentar a profundidade e a frequência das alucinações. Drogas que produzem psicoses por si próprias, como metanfetamina, maconha e LSD, podem piorar a doença mental de uma forma abrupta e veloz.

Que efeitos essas drogas produzem em um cérebro saudável? Em alguém que não tenha esquizofrenia, os efeitos relacionados com a ansiedade e com a paranoia serão, provavelmente, mais moderados. Não é incomum, porém, que pessoas saudáveis, mas com suscetibilidade maior a tais substâncias, possam vir a desenvolver psicoses.

Estudos conduzidos pela senhora nos anos 80 provaram que a cocaína tinha, sim, a capacidade de viciar o usuário e de causar danos permanentes ao cérebro. Até então, ela era considerada uma droga relativamente "segura". Existe alguma droga que seja segura no que diz respeito à capacidade de viciar e de causar danos à saúde? Não existe droga segura, a não ser a cafeína. Como ela é estimulante e produz efeitos farmacológicos nos receptores de adenosina, é, sim, uma droga. Mas não há evidências de que vicie nem de que seja tóxica - a não ser que você tenha problemas cardiovasculares. Ainda não sabemos se é prejudicial a crianças e adolescentes, mas para adultos não há nenhum problema.

E a maconha? Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva. Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear receptores neurais muito importantes. Estudos feitos em animais mostraram que, expostos ao componente ativo da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), eles deixam de produzir seus próprios canabinoides naturais (associados ao controle do apetite, memória e humor). Isso causa desde aumento da ansiedade até perda de memória e depressão. Claro que há pessoas que fumam maconha diariamente por toda a vida sem que sofram consequências negativas, assim como há quem fume cigarros até os 100 anos de idade e não desenvolva câncer de pulmão. Mas até agora não temos como saber quem é tolerante à droga e quem não é. Então, a maconha é, sim, perigosa.

A senhora concorda que ela seja a porta de entrada para outras drogas? Se você olhar os dados, verá que a maior parte dos usuários de cocaína começou com a maconha. Mas, ao olharmos os dados de quem fuma maconha, veremos que essas pessoas geralmente começaram com cigarros ou álcool. Qual seria a verdadeira droga de entrada, então? Uma das leituras sobre essa questão é que, durante a adolescência, as pessoas bebem e fumam cigarros porque esses produtos estão disponíveis e são legais e, quando crescem, elas se tornam propensas a usar drogas mais pesadas. Uma leitura alternativa é que a exposição à nicotina e ao álcool na juventude faz com que as pessoas fiquem mais vulneráveis aos efeitos de outras drogas. Para mim, essa é a hipótese correta. A exposição precoce às drogas muda a sensibilidade do sistema de recompensa do cérebro. Como esse sistema se torna menos sensível, os dependentes químicos buscam uma compensação nas drogas.

Por que em geral as pessoas começam a usar drogas na adolescência? O cérebro do adolescente é muito menos conectado do que o de um adulto. Como resultado, os adolescentes não conseguem controlar e regular a intensidade de suas emoções e desejos da mesma forma que os mais velhos. Isso faz com que vivam de maneira mais vigorosa, mas, ao mesmo tempo, assumam riscos maiores, como experimentar drogas.

O uso de drogas na adolescência é mais perigoso do que na vida adulta? Certamente, porque o cérebro de um adolescente é mais plástico e mais sensível aos estímulos externos que vão moldá-lo. A forma que seu cérebro vai tomar na idade adulta depende muito dos estímulos que você recebeu quando criança e adolescente. O risco de desenvolver o vício também é maior para o adolescente. O motivo é o mesmo: a plasticidade cerebral nessa fase, que faz com que o jovem apreenda informações muito mais facilmente do que o adulto.

Por que é tão difícil quebrar o ciclo de desejo, compulsão e perda de controle que o vício traz? É difícil porque o cérebro, em consequência do uso de drogas, é modificado de maneira física. A dependência química é uma doença cerebral que muda a bioquímica, a função e a anatomia do cérebro. Ocorre da seguinte maneira: todas as drogas aumentam a concentração de dopamina no cérebro. Quando o sistema dopaminérgico é ativado vez após outra pelo consumo repetido dessas substâncias, ele sofre modificações, de forma que passa a não funcionar mais quando a pessoa não está sob efeito da droga. Com isso, o usuário procura usar mais drogas - para tentar compensar esse déficit.

O que faz alguém se viciar em uma droga? Isso pode variar de pessoa para pessoa e de acordo com o tipo de droga. Mas, de modo geral, é preciso que a pessoa seja exposta à substância repetidamente. Mesmo nessas condições, nem todos os usuários se viciam. Porém cerca de 10% deles desenvolvem o vício depois de pouco tempo de uso. Nos casos em que isso ocorre, o usuário tem uma vulnerabilidade que pode ser de ordem biológica ou social. Isso significa que ele pode ter uma predisposição genética para o vício ou estar sob algum tipo de stress que ajudou a disparar o gatilho da adição. Os traumas mais potentes ocorrem na infância: abandono, repetidas negligências, abusos físicos, sexuais, convivência com pais presos ou portadores de doenças mentais. Mas é claro que nada disso resulta em vício se a pessoa não tiver acesso às drogas.

É possível curar o vício? Nós não podemos curá-lo atualmente, apenas tratá-lo. Quando você tem uma infecção bacteriana, toma um antibiótico e está curado. Agora, se você tem asma ou diabetes, tem de tomar algum tipo de medicamento ao longo de sua vida. É um tratamento para sua condição, não uma cura. Hoje, existem apenas tratamentos para o vício, que combinam medicamentos e terapias comportamentais. Estamos desenvolvendo uma vacina contra o vício de cocaína e nicotina, mas são apenas pesquisas ainda.

É possível, depois de se reabilitar, voltar a usar drogas sem se viciar? Há casos já identificados. Por muito tempo se disse, principalmente sobre o alcoolismo, que, se você é alcoólatra, nunca, mas nunca mesmo, poderá chegar perto de novo da droga. Em pesquisas, há evidências de que alguns alcoólatras conseguem voltar a beber um ou dois copos de vez em quando sem se viciar, mas eles são a minoria. O problema é que não sabemos quem será capaz de se ater a apenas alguns drinques e quem vai se viciar de novo, por isso recomendamos clinicamente que todos fiquem afastados da droga.

Está em curso no Brasil uma campanha para descriminalizar a maconha. A senhora concorda com isso? Não concordo porque, ao descriminalizar a maconha, você estará contribuindo para que mais gente a consuma. Há quem não fume por medo da repercussão negativa que a atitude pode provocar - e descriminalizá-la significa dizer: "Se você fumar, está tudo bem".

Um grupo de pesquisadores brasileiros está discutindo a possibilidade de permitir o uso medicinal da maconha. Quais são os benefícios já comprovados da droga? As pesquisas mostram que os canabinoides, inclusive o THC, têm algumas ações terapêuticas úteis. Por exemplo, diminuem a resposta à náusea, o que é muito útil para pacientes com câncer que estão enfrentando uma quimioterapia. Outra vantagem comprovada é que eles aumentam o apetite e podem ajudar a combater a anorexia que acomete pacientes com doenças como a aids, por exemplo. Além disso, podem ter benefícios analgésicos e diminuir a pressão interna do olho, o que pode evitar um glaucoma. O que nosso instituto apregoa é que você pode ter o benefício dos canabinoides sem os efeitos colaterais que resultam do fumo da maconha, como a perda de memória, por exemplo. Por isso, estamos encorajando o desenvolvimento de medicamentos que maximizem as propriedades terapêuticas da droga sem seus efeitos danosos. No mercado americano, já existem algumas pílulas, como a Marinol, que permitem isso.

Em suas pesquisas a senhora descobriu que o córtex orbitofrontal, a principal área do cérebro afetada por quem tem transtorno obsessivo-compulsivo, também está ligado ao vício. É essa a chave da compulsão pelas drogas? Eu concluí que a pessoa viciada em drogas desenvolve uma obsessão e uma compulsão pela droga similares às daquela que tem transtorno obsessivo-compulsivo. O que o vício e o TOC têm em comum é que ambas as doenças afetam as mesmas áreas do cérebro, aquelas relacionadas aos hábitos e aos controles. Mas, embora o local afetado seja o mesmo e a apresentação dos sintomas se dê de forma parecida, os mecanismos que levam a essas anormalidades não são.

A senhora também estudou a função da dopamina em quem come compulsivamente. Que relações se podem fazer entre a obesidade e o vício em drogas? Ambos resultam em uma busca compulsiva por uma recompensa: no caso da obesidade é a comida e no caso da adição é a droga. Nos dois, há a perda de controle. Quem é patologicamente obeso come mesmo quando não quer. Podemos dizer que algumas pessoas parecem ser viciadas em comida, embora até o momento isso não tenha sido aceito nas comunidades clínica e científica.

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse recentemente que o povo americano tem uma demanda insaciável por drogas. A senhora acredita que essa demanda é mesmo mais intensa nos EUA do que em outros países? O prazer oriundo das drogas é uma comodidade que você compra, como um luxo. Então há, sem dúvida, um elemento econômico nessa discussão. Também existem elementos relacionados à estrutura social e às normas. Os americanos são mais tolerantes em relação a comportamentos diferentes do que muitos outros povos. Isso resulta também em maior aceitação do uso de drogas.

A senhora nunca sentiu vontade de experimentar alguma droga? Bebo de vez em quando um copo de vinho e experimentei cigarros quando era adolescente. Nunca usei cocaína, maconha nem outro tipo de droga ilícita. Amo meu cérebro e nunca pensei em estragá-lo.


Fonte:   Exame / Kalleo Coura / Luiz Maximiano

quinta-feira, 25 de março de 2010

Entrevista à ISTOÉ. Quem são os burros motivados?


A revista ISTO É publicou esta entrevista de Camilo Vannuchi. O entrevistado é Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, com Pós-Graduação em administração de empresas pela USP, consultor organizacional e conferencista de renome nacional e internacional.

'Cuidado com os burros motivados'

Em 'Heróis de Verdade', o escritor combate a supervalorização das aparências, diz que falta ao Brasil competência, e não auto-estima.


ISTO É - Quem são os heróis de verdade?

Roberto Shinyashiki -- Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe.

O mundo define que poucas pessoas deram certo.

Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes.

E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.

Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu à pena, porque não conseguiu ter o carro, nem a casa maravilhosa.

Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa, possa se orgulhar da mãe.

O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes.

Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.  São pessoas que sabem pedir desculpas e admitiram que erraram.

ISTO É -- O Sr. citaria exemplos?

Shinyashiki -- Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia.  Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis.  Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem.
Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito '100% Jardim Irene'.
É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes.
O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana.
Em países como o Japão, a Suécia e a Noruega, há mais suicídio do que homicídio.  Por que tanta gente se mata?   Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher, que embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego, que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

ISTO É -- Qual o resultado disso?

Shinyashiki -- Paranóia e depressão cada vez mais precoce.
O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece.
A única coisa que prepara uma criança para o futuro, é ela poder ser criança.
Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas.
Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTO É - Por quê?

Shinyashiki -- O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento.
É contratado o sujeito com mais marketing pessoal.
As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.
Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras.
Disse que ela não parecia demonstrar interesse.
Ela me respondeu estar muito interessada, mas como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas.
Contratei-a na hora.
Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTO É -- Há um script estabelecido?

Shinyashiki -- Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa 'O Aprendiz'?
- Qual é seu defeito?
Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal:
- Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.
É exatamente o que o Chefe quer escutar.
Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido?
É contratado quem é bom em conversar, em fingir.
Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma as maiores empresas do planeta me disse:
'Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir'.
Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor!

ISTO É -- Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?

Shinyashiki -- Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento.
Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência.
Cuidado com os burros motivados.
Há muita gente motivada fazendo besteira..
Não adianta você assumir uma função, para a qual não está preparado.
Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão.
Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso, para o qual eu não estava preparado.
Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia.
O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

ISTO É -- Está sobrando auto-estima?

Shinyashiki -- Falta às pessoas a verdadeira auto-estima.
Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa.
Antes, o ter conseguia substituir o ser.
O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom.
Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser, nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer.
As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam.
E poucos são humildes para confessar que não sabem.
Há muitas mulheres solitárias no Brasil, que preferem dizer que é melhor assim.
Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTO É -- Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?

Shinyashiki -- Isso vem do vazio que sentimos.
A gente continua valorizando os heróis.
Quem vai salvar o Brasil? O Lula.
Quem vai salvar o time? O técnico.
Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta.
O problema é que eles não vão salvar nada!
Tive um professor de filosofia que dizia:
'Quando você quiser entender a essência do ser
humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham'. Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia.
Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo.
A gente tem de parar de procurar super-heróis, porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.


ISTO É -- O conceito muda quando a expectativa não se comprova?

Shinyashiki -- Exatamente.. A gente não é super-herói nem superfracassado.
A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza.
Não há nada de errado nisso.
Hoje, as pessoas estão questionando o Lula, em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram.
A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTO É -- Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?

Shinyashiki -- Tenho minhas angústias e inseguranças.. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente.
Há várias coisas que eu queria e não consegui.
Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos.
Com uma criança especial, eu aprendi que, ou eu a amo do jeito que ela é, ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse.
Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo.
O resto foram apostas e erros.
Dia desses apostei na edição de um livro, que não deu certo.
Um amigão me perguntou:
'Quem decidiu publicar esse livro?'
Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTO É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?

Shinyashiki -- O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las.  São três fraquezas:
A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança.
Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram.
Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno.
Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards.
Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.
O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

ISTO É -- Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus? 

Shinyashiki -- A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade..
A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se eles não tivessem significados individuais.
A segunda loucura é:
Você tem de estar feliz todos os dias.
A terceira é:
Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo.
Por fim, a quarta loucura:
Você tem de fazer as coisas do jeito certo.
Jeito certo não existe.
Não há um caminho único para se fazer as coisas.
As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.
Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.
Tem gente que diz que não será feliz, enquanto não casar, enquanto o
enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo à praia ou ao cinema..
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais.
Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte.
A maior parte pega o médico pela camisa e diz:
'Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei à vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz'.
Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. 

Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.   Todos, na hora da morte…”dizem se arrepender de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.”…

….”aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas”….

Reflita sobre isto, e veja se existe alguma semelhança em sua vida.

Boa Sorte! SUCESSO e principalmente FELICIDADE!

Roberto Shinyashiki

sexta-feira, 19 de março de 2010

Simplicidade

Escrevo para a VIDA SIMPLES todos os meses há mais de sete anos e esta é a primeira vez que abordo o tema da simplicidade como foco de meu artigo. Já escrevi sobre como simplificar a vida no trabalho, como construir relações descomplicadas, como ser simples na comunicação, mas, nesses casos, o tema central era outro – o trabalho, as relações, o diálogo –, e a simplicidade era o adjetivo, uma espécie de coadjuvante de luxo, como um ator consagrado que faz uma participação especial em um filme.
Desta vez é diferente, a simplicidade assume o papel de protagonista; é o núcleo, e os fatos da vida passam a gravitar em torno dela como os elétrons de um átomo. E eis que surge o primeiro dilema existencial do texto: será possível dar à simplicidade o posto de termo essencial da oração, o núcleo do sujeito, que pode receber complementos, mas que já existe por si só? Pois eu acredito que sim, que a simplicidade pode até ganhar a dimensão de uma fi- losofia, e, especialmente em nosso mundo complicado, pode apontar para o estilo de vida que almejamos cada vez que sentimos o peso da complexidade apertando nosso peito como a mão de um gigante mau e implacável.
Felizmente existe a ideia da simplicidade, e esta é, digamos, simples desde sua origem. A palavra é formada por duas outras de origem latina: sin, que significa único, um só, e plex, que quer dizer dobra. Ser simples significa ter uma só dobra, ao contrário do complexo, que tem várias. Imagine uma folha de papel na qual está escrita uma mensagem. Quem a escreveu dobrou a folha uma única vez e a entregou para você, que em um gesto único a abre e lê seu conteúdo. Simples!
Agora pense nessa mesma folha dobrada várias vezes, como um origami (mas sem a beleza da arte japonesa), apenas um monte de dobras que denotam a preocupação do autor em esconder o conteúdo da mensagem. Você precisará, nesse caso, dedicar-se a desfazer as dobraduras, uma a uma, até abrir a folha, que deverá, então, ser alisada, antes de expor seu conteúdo. Pois assim é a vida em todas as suas dimensões. Pode ter uma dobra generosa ou ter várias dobras desconfiadas.
Simplificar significa, então, facilitar o acesso ao que interessa, ao conteúdo dos fatos da vida, das coisas que usamos e das mensagens que queremos passar. Isso explica tudo. Aliás, a palavra explicar significa exatamente “tirar as dobras”, alisar a folha que contém nossas ideias. Só explica quem quer simplificar. Quem não quer, complica.
Simplificar significa evitar a complexidade e criar uma vida sem mistérios? Há uma diferença fundamental entre ser simples e ser simplório. Os simples resolvem a complexidade, os simplórios a evitam. Eu conheço pessoas sofisticadas, intelectualizadas, que levam uma vida plena, realizam trabalhos difíceis, apreciam leituras profundas e têm hábitos peculiares. E continuam sendo pessoas descomplicadas. Conheço também pessoas simplórias, com pouca profundidade, que realizam trabalhos repetitivos, que têm poucas ambições, que apreciam rotinas e evitam os sustos de uma vida aventurosa. E mesmo assim são pessoas complicadas, para elas tudo é muito difícil, em geral impossível.
Não, ser simples não significa evitar o complexo, abrir mão da sofisticação, negar a profundidade, contentar-se com o trivial. Ser simples significa olhar com olhos plácidos a esfinge da complexidade e decifrá-la muito antes de correr o risco de ser por ela devorado.
Simplificar significa facilitar o acesso ao que interessa e às mensagens que queremos passar
Há pouco assisti a um vídeo sobre a vida de Picasso, em que ele aparece desenhando a pomba que se tornaria o símbolo adotado pelo Congresso da Paz de Paris. É inacreditável como ele fez aquele desenho, tão simbólico, com tamanha facilidade. Um traço leve e lá estava a pomba com seu ramo de oliveira. Simples como a paz.
O artista nos mostrou isso através de sua genialidade, só que esta foi desenvolvida a partir de longas horas de estudo e dedicação. Antes de ser simples, Pablo Picasso foi complexo, estudou anatomia humana, desvendou Cézanne, deformou faces, criou o cubismo, aprofundou-se em arte africana. Ou seja, levou tempo para fazer coisas simples. Aliás, foi ele mesmo que disse que “leva-se muito tempo para ser jovem”, atribuindo à leveza da juventude a maturidade de ser descomplicado.
Não há um paradoxo em construir uma vida simples em meio à vida moderna, cada vez mais exigente? Hiroshi criou a Ecovila Clareando, uma comunidade autossustentável no interior de São Paulo que atrai gente comprometida com a natureza e com seus valores, como a sustentabilidade, sem a ingenuidade das “sociedades alternativas” de antigamente, mas tendo a simplicidade como filosofia. Ele planta e produz praticamente tudo o que precisa para se alimentar, domina as técnicas de construção ecológica e de produção de energia limpa. Mas não é um isolado, viaja, participa de congressos, dá palestras, toca violão, compõe músicas. E é alegre em tempo integral.
Goldberg é professor da New York University, onde faz pesquisas sobre o cérebro humano, e consegue falar sobre seu funcionamento de maneira compreensível. Escreveu alguns livros, entre eles O Paradoxo da Sabedoria, em que afirma que, apesar do envelhecimento do cérebro, a mente pode manter-se jovem. Seus textos são o melhor exemplo de como se pode simplificar o complexo, pois são sobre neurofisiologia, mas qualquer um entende.
Ele é simples também em sua vida pessoal. Mora a uma quadra do Central Park, e seu consultório é do outro lado da rua. Tem um mastim napolitano chamado Brit que o acompanha por onde vai, e, russo de nascimento, adora comer caviar, que ele consegue bem baratinho no importador, que é seu conterrâneo. O cientista é uma ilha de simplicidade em um mar de complexidade.
Eu não poderia imaginar vidas mais diferentes e, ao mesmo tempo, mais parecidas. O diferente fica por conta do ambiente, o semelhante por conta da postura de vida. Ambos carregam uma leveza própria das pessoas que decidiram não complicar, sem abrir mão de seus desejos, projetos, objetos, pequenos luxos, enfim, da vida normal. Pessoas assim, que fazem a opção da simplicidade, têm alguns traços comuns. Identifico cinco deles:
• São desapegadas: não acumulam coisas, fazem uso racional de suas posses, doam o que não vão usar mais.
• São assertivas: vão direto ao ponto com naturalidade, mesmo que seja para dizer não, sem medo de decepcionar, não “enrolam” nem sofisticam o vocabulário desnecessariamente.
• Enxergam beleza em tudo: em uma flor no campo e em um quadro de Renoir; em uma modinha de viola e em uma sinfonia de Mahler; em um pastel de feira e na alta gastronomia.
• Têm bom humor: são capazes de rir de si mesmas e, mesmo diante das dificuldades, fazem comentários engraçados, reduzindo os problemas à dimensão do trivial.
• São honestas: consideram a verdade acima de tudo, pois ela é sempre simples e, ainda que possa ser dura, é a maneira mais segura de se relacionar com o mundo.
Ser simples, definitivamente, não é abrir mão de nada. É possível apreciar o conforto, a sofisticação intelectual, as artes, o prazer da culinária, a aventura das viagens e continuar sendo simples.
Pois ser simples não é contentar-se apenas com o mínimo para manter-se fisicamente vivo, uma vez que não somos só corpo, também somos imaginação, intelecto, sensibilidade e alma. E esta última é, sim, simples, mas não é pequena, a não ser, é claro, que a pessoa queira. Nesse caso, não há mesmo então o que fazer.
Fonte: Abril - Vida Simples - Por Eugenio Mussak

quarta-feira, 17 de março de 2010

Laser: A medicina da luz

Metade de todos os procedimentos médicos, das mais diversas especialidades, tem como primeira indicação esse feixe de luz concentrada. E as pesquisas
mostram que seu uso pode se ampliar para muitos outros campos.

O mundo, do jeito como o conhecemos hoje, seria impossível sem o uso do laser. Esse feixe de luz concentrada é imprescindível na transmissão de dados pela internet e no sistema de telefonia. Quando ouvimos um CD ou assistimos a um DVD, lá está ele, transformando ondas eletromagnéticas em sons e imagens. Graças ao laser, as filas nos supermercados e bancos andam mais rapidamente - os códigos de barras são interpretados por ele. É essa luz, ainda, que dá exatidão milimétrica à mira dos mísseis lançados pelos navios, aviões e tanques de guerra; mantém os trens alinhados sobre os trilhos; permite a medição dos poluentes atmosféricos... "Com suas múltiplas funções, o laser é, sem dúvida, a invenção mais impactante do mundo moderno", diz o físico Nilson Dias Vieira Junior, superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Há uma área do conhecimento humano, no entanto, em que a revolução provocada pelo laser, ainda que grandiosa, ocorre de maneira silenciosa, quase imperceptível para a maioria das pessoas. Na medicina, ele corta (com muita precisão e pouco sangue) músculos, pele e ossos. Monitora o crescimento de tumores e os faz evaporar. Substitui medicamentos no tratamento de doenças crônicas, como artrite reumatoide e asma. Estimula a renovação celular e pode ser capaz até de diagnosticar lesões na retina. Dentro da medicina, ainda, há outra área em que o laser é um bálsamo, sobretudo agora, no verão. Na dermatologia, além de remover as manchas de pele e as linhas de expressão, a luz corta literalmente o mal pela raiz, ao danificar os bulbos capilares e impedir o nascimento e o crescimento de pelos indesejáveis. Na temporada de corpos à mostra, não ter de se preocupar com a depilação e exibir as pernas lisinhas o tempo todo é (quase) um milagre.


MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Conforme sua matéria-prima, potência e forma de emissão, o laser pode ser usado em muitos procedimentos médicos - da remoção de manchas na pele à destruição de alguns tumores

O primeiro aparelho de laser foi criado em 1960 pelo físico americano Theodore Maiman (1927-2007). Seu objetivo era desenvolver uma fonte de energia para ser usada em experiências de laboratório (veja o quadro). O laser é a única fonte de luz que se propaga de forma organizada, em uma mesma direção, por meio de ondas de comprimento idêntico. Tais características o tornam um emissor de grandes quantidades de energia e de fácil manipulação. Em 1961, por obra da curiosidade de um oftalmologista pelas novas tecnologias, o laser foi usado fora de um laboratório de pesquisa. Charles Campbell (1926-2007), do Instituto de Oftalmologia do Centro Médico Presbiteriano da Columbia, nos Estados Unidos, utilizou-o para eliminar um tumor maligno da retina de um paciente. Desde os anos 50, os médicos empregavam a luz solar para queimar lesões na retina. Com uma lente, eles convergiam os raios de sol diretamente para o olho do doente. Ainda que o laser seja 1 septilhão de vezes mais forte, ele provocava menos efeitos colaterais, como queimaduras. Isso porque, ao contrário da energia solar, é mais controlável e direcionável. As operações de Campbell foram consideradas revolucionárias e, assim, a nova técnica começou a ser testada nos diversos campos médicos. Mas o grande impacto do laser na medicina só viria na década de 90, com a difusão dos aparelhos por pulsos. A emissão passou a ser feita, por exemplo, por meio de microtiros, o que permitiu o uso de potências elevadas em procedimentos delicados ou superficiais. De lá para cá, o laser tornou-se a primeira opção para nada menos do que 50% de todos os procedimentos médicos - o dobro em relação há vinte anos.


DOR NUNCA MAIS
Antes de ser submetido ao tratamento a laser para se livrar de um cálculo renal, o engenheiro Marcelo Pachalian, de 39 anos, recorreu ao método convencional, o ultrassom. As ondas de som, porém, não conseguiram destruir inteiramente a pedra de 0,9 centímetro de diâmetro. No processo natural de expulsão do cálculo, pela uretra, o engenheiro teve de ser levado às pressas para o hospital por causa de dores terríveis. A pedra, então, foi pulverizada pelo laser e expelida sem sofrimento

Nenhuma área da medicina foi tão beneficiada pelo aperfeiçoamento do laser quanto a dermatologia. Ele é a principal indicação para 95% das terapias antienvelhecimento - da remoção de manchas ao aumento da produção de colágeno, a fibra responsável pela firmeza e elasticidade da pele. Na década de 80, o laser era utilizado em apenas 40% dos casos, sobretudo nas peles profundamente marcadas pelo tempo. "Nessa fase, eu não me atreveria a usar o laser em pacientes com menos de 40 anos", diz Adilson Costa, dermatologista da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. "As marcas do tratamento - vermelhidão e queimaduras - eram tão profundas que obrigavam os pacientes a ficar em casa por até um mês." Atualmente, alguém que se submete a uma sessão de laser, não importa a finalidade do procedimento, pode sair do consultório do dermatologista diretamente para o trabalho.

Todas as intervenções estéticas à base de laser consistem em danificar parte das células da área tratada, de modo a estimular a renovação celular. É nesse processo que manchas, vincos, marcas de expressão e pés de galinha desaparecem - ou são, no mínimo, bastante atenuados. É possível rejuvenescer a pele em até cinco anos, mas para isso é necessária uma aplicação por mês, durante quatro meses. Além disso, em dois anos é preciso voltar ao consultório do dermatologista. Existe, porém, um tipo de marca que o laser apaga para sempre - as cicatrizes provocadas pela acne. Até então, não havia nada que desse jeito nelas. De cremes a peelings abrasivos, vencer essas marcas era um dos maiores desafios da dermatologia estética. A empresária Gloria Varella, de 47 anos, concordou em se submeter ao tratamento quando o médico lhe garantiu que, depois das aplicações, ela não precisaria interromper suas atividades diárias. "Tive uma ótima surpresa: além de ir trabalhar no mesmo dia, ninguém notou os efeitos das aplicações", diz. Após cinco sessões, Gloria estava com o rosto lisinho.


VIDA NORMAL
Asmática, a assistente social Márcia Mascarenhas Ganen (à esq.), de 44 anos, sofria com crises terríveis de falta de ar. As bombinhas de corticoide eram usadas constantemente. Há pouco mais de um mês, ela deu início a um tratamento de controle da asma por laser. As ondas luminosas regulam as substâncias envolvidas nos processos inflamatórios. Depois da quarta aplicação, Márcia já pode deixar a bombinha em casa

Não há mulher que não sonhe com o dia em que se verá livre da depilação - poucas obrigações estéticas são tão chatas quanto ter de se submeter à cera quente ou fria de quinze em quinze dias. Pois o laser consegue matar os bulbos capilares, o nascedouro dos pelos. Depois de cinco meses de tratamento, com uma sessão por mês, os pelos praticamente desaparecem. Como a natureza dá sempre um jeito de driblar o homem, entre dois e cinco anos mais tarde, os pelos reaparecem - mas mais fracos. Para eliminá-los, é preciso fazer mais aplicações de laser - agora em sessões de manutenção, de uma a duas vezes ao ano. "Não existe tratamento de beleza mais prático e fantástico criado pela medicina do que a depilação a laser", diz a apresentadora Sabrina Sato, de 28 anos. Há três anos, ela se submeteu a três sessões de laser nas axilas. Desde então, nunca mais recorreu a lâminas descartáveis. Um ano atrás, Sabrina voltou ao dermatologista para duas aplicações de manutenção. Às loiras, um alerta: o raio laser não consegue destruir os bulbos de pelos claros.


VISÃO RECUPERADA
Três anos atrás, o aposentado Artur Martins da Silva, de 72 anos, foi acometido por um derrame na retina. Corrigiu-se o problema em meia hora graças ao laser. Extremamente preciso, o feixe de luz conseguiu cauterizar os vasos sanguíneos doentes - e Silva recuperou 40% da visão

Hoje, graças à exatidão dos cortes a laser, 95% dos pacientes deixam de usar óculos depois de uma operação de miopia. Para se ter ideia da tecnologia dos aparelhos empregados nesse tipo de cirurgia, os feixes de luz que eles emitem têm a duração de cerca de 10 femtossegundos. Um femtossegundo equivale a 1 segundo dividido em 1 quatrilhão de vezes. "Como o contato do laser com a córnea é mínimo, podemos utilizá-lo em altas temperaturas e em estruturas muito delicadas, como a córnea e a retina", diz o oftalmologista Max Damico, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Aliada ao calor intenso, a rapidez dos feixes de luz transformou o laser numa espécie de bisturi de altíssima precisão. Três anos atrás, o aposentado Artur Martins da Silva, de 72 anos, começou a apresentar uma sensação de ardência no olho esquerdo. Durante seis meses, ele prorrogou a visita ao oftalmologista. Imaginava que o desconforto fosse produto da poluição e do stress. No momento em que começou a perder a visão, Silva foi em busca de ajuda médica e descobriu ter sido vítima de uma obstrução nos vasos da retina. Submetido a uma cauterização a laser, ele recuperou 40% da visão. A cirurgia durou meia hora.


SEM MARCAS NEM CICATRIZES
Depois da quinta sessão de laser, a empresária Gloria Varella, de 47 anos, já notou a diferença: a pele de seu rosto está mais lisa, sem as manchas de gravidez e as cicatrizes de acne. "Já tinha usado tudo, de ácido retinoico a peelings agressivos. Nenhum procedimento foi tão eficaz quanto o laser", diz ela.

O alcance do laser no corpo humano vai da superfície da pele, como nos tratamentos estéticos, a órgãos e estruturas mais recônditos, como rins, ossos, coração, próstata, colo do útero e pulmões. Os feixes de luz chegam a tais regiões por meio da endoscopia, laparoscopia ou cirurgia aberta. O controle da temperatura do laser é fundamental para o sucesso de tais procedimentos, especialmente nas regiões mais vascularizadas. Quanto maior a quantidade de sangue, maior é o risco de formação de coágulos, o que pode levar à obstrução de vasos sanguíneos. No tratamento da hiperplasia benigna da próstata, um mal que atinge 14 milhões de brasileiros com mais de 50 anos, o calor emitido pelo laser tem de girar em torno dos 200 graus. O intuito nesse caso não é cauterizar o tecido prostático excedente, e sim fazê-lo evaporar.


PRÁTICO E FANTÁSTICO
A apresentadora Sabrina Sato, de 28 anos, abandonou de vez as lâminas descartáveis com três sessões de laser nas axilas, realizadas entre 2006 e 2007. No ano passado, ela voltou ao dermatologista para duas sessões de manutenção. "Não existe tratamento de beleza mais prático e fantástico já criado pela medicina do que a depilação a laser", afirma

O laser é também o único método capaz de bombardear cálculos renais, independentemente de seu volume. Uma das técnicas mais tradicionais prevê a explosão das pedras nos rins por meio de ultrassom. No entanto, os cálculos pequenos, de diâmetro inferior a 1 centímetro, na maioria das vezes, escapam à ação das ondas sonoras. À do laser, nunca. Ao reduzir as pedras renais a tamanhos microscópicos, ele livra os pacientes da dor durante o processo de eliminação pela urina do que sobrou delas. "O único inconveniente é que o procedimento exige anestesia geral, pois a passagem do endoscópio pelo ureter é dolorosa", diz Gustavo Guimarães, urologista do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. A sedação foi o motivo que levou o engenheiro Marcelo Pachalian, de 39 anos, a recusar o laser a princípio e optar pelo ultrassom. "Tenho horror a hospital", diz ele. Não adiantou evitar. O cálculo que estava localizado no rim direito não foi destruído e poucos dias depois, com fortes dores, Pachalian voltou ao hospital. No início de dezembro, submeteu-se ao laser e a pedra foi desintegrada.

Uma das novidades mais promissoras é o laser conhecido como frio ou terapêutico, que tem 1 grau Celsius de temperatura. Ele interage com as células, fazendo com que a produção de substâncias essenciais para a saúde do organismo seja regulada. "Trata-se de um dos mecanismos mais complexos e fascinantes no tratamento de doenças e de problemas estéticos", diz Maria Cristina Chavantes, diretora do Serviço da Central Médica de Laser do Instituto do Coração, em São Paulo. O laser frio é capaz de equilibrar a produção de hormônios envolvidos nos mecanismos da analgesia e de inflamações por asma. Asmática, a assistente social Márcia Mascarenhas Ganen, de 44 anos, ficou livre das crises de falta de ar e das bombinhas de corticoides depois de quatro aplicações.

Uma das mais extraordinárias frentes de estudo ocorre na área de diagnósticos. Hoje em dia já é possível detectar algumas doenças por meio do feixe de luz, como no caso de distúrbios na retina e tumores superficiais, em especial o de pele. Tais máquinas, porém, não são precisas a ponto de conseguir substituir a biópsia. Esse é o grande objetivo de cientistas dos melhores centros de pesquisa do mundo. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e o MD Anderson, ambos nos Estados Unidos, e o Ipen, no Brasil, investigam a criação de uma tecnologia mais abrangente, que permita o diagnóstico de um leque maior de distúrbios. Sabe-se que, conforme o tipo de célula rastreada e as características do laser, a luz é absorvida de maneira diferente - os tumores malignos, por exemplo, são grandes consumidores de energia. A expectativa é que, em uma década, seja possível mapear as células humanas em todas as suas minúcias, por meio de laser em laparoscopias, endoscopias ou até mesmo por sobre a pele. Para as próximas gerações, essa será a luz no fim do túnel.


DOIS EM UM
Paciente é submetida a tratamento contra miomas uterinos em máquina que combina a precisão da ressonância magnética com a força de ondas de ultrassom

As ondas de som - ou ultrassom - também cumprem um papel relevante na medicina. Conforme a frequência em que elas são emitidas, podem ser usadas tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento de diversas doenças. Utilizado em baixa frequência, o ultrassom rastreia o organismo fornecendo informações sobre diversos órgãos, especialmente os tecidos moles, aqueles que contêm mais água. Como um sonar, ele emite ondas sonoras que, ao encontrar um órgão, recebem os ecos correspondentes. Esses ruídos são transformados em imagens por um computador e, a partir delas, os médicos elaboram o diagnóstico dos pacientes. Quando programado para frequências mais elevadas, o ultrassom ganha poder de destruição. Nessas condições, o impacto das ondas sonoras desintegra cálculos renais, miomas uterinos e tumores de próstata. Nos anos 80, foi criado um aparelho que permitiu a utilização combinada dos tipos de ondas. As mais fracas indicam a localização da estrutura a ser destruída e, em seguida, as ondas mais intensas aniquilam o alvo. É o que os médicos chamam de terapia de ondas de choque.

Nos últimos cinco anos, o ultrassom vem sendo substituído por exames de ressonância magnética, a mais avançada tecnologia no campo dos exames de imagem para tecidos moles. Os equipamentos mais modernos conseguem detectar alterações minúsculas, de apenas 0,5 milímetro de diâmetro. Há, ainda, aparelhos que combinam ressonância magnética com ultrassom de alta frequência. O primeiro deles foi desenvolvido pela empresa israelense Insightec e se chama ExAblate 2000. Por enquanto, seu uso está aprovado apenas para alguns tratamentos, como na região pélvica. Os estudos mais recentes sugerem que, em alguns casos, o novo equipamento pode vir até a substituir cirurgias abertas. Pesquisadores do Hospital Infantil da Universidade de Zurique, na Suíça, obtiveram sucesso em operações para a retirada de tumores em regiões profundas do cérebro. A meta agora é testar o procedimento em pacientes vítimas de Parkinson. Aprovado pela agência de controle de medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, o ExAblate começou a ser adquirido por instituições brasileiras. Seu preço: 1 milhão de dólares, contra os 50 000 dólares dos aparelhos de ultrassom tradicionais.


O ano zero da economia limpa
Svante Arrhenius era um desconhecido físico sueco quando, em 1896, fez um alerta: se a humanidade continuasse a emitir dióxido de carbono na atmosfera no mesmo ritmo que fazia desde a alvorada da Revolução Industrial, em 1750, a temperatura média do planeta subiria de maneira dramática, em decorrência do efeito estufa.

Pouca gente escutou o apelo de Arrhenius em seu tempo, um período sem carros, sem megalópoles, com apenas 1,2 bilhão de pessoas no mundo. Quase ninguém seguiu seu raciocínio na maior parte do século seguinte. Foi assim até que novas evidências científicas surgiram, além das catástrofes naturais. E nos anos 1960 brotou uma ideia romântica, utópica e alternativa de preservação da natureza. Ela hoje entrou na corrente principal do pensamento ocidental, ajudou a transformar os processos de produção industrial e moldou o perfil dos líderes empresariais que conduzem o capitalismo no século XXI. Há muito ainda a ser feito. Evidentemente, é um frágil equilíbrio, mas trata-se, agora, de agir já para pagar menos depois.

Um relatório produzido em 2006 pelo economista inglês Nicholas Stern, então no Banco Mundial, indica que investir imediatamente, a cada ano, 1% do PIB global pode evitar perdas de até 20% desse mesmo PIB até 2050. É informação que os líderes reunidos na COP15, em Copenhague, neste mês, tinham com nitidez. Esses números não os fizeram avançar muito, em uma cúpula que entrará para a história pelos tímidos resultados que ofereceu. Não há problema. Existe uma mensagem clara: os estados não se entendem, escorregam na burocracia e em interesses egoístas, mas a iniciativa privada saiu na frente. As empresas e a sociedade já fazem mais e melhor que os governos no combate ao aquecimento global. Eles ainda patinam para entregar sua principal - se não única - contribuição, a de definir um quadro institucional estável e favorável à livre-iniciativa, à inovação e ao empreendedorismo.


Fonte: Especial VEJA

quarta-feira, 10 de março de 2010

10 coisas que você não precisa comprar em 2010

No longo prazo, esse dinheirinho pode representar a sua aposentadoria ou a grana que você precisa para começar o plano B - montar um negócio próprio, quem sabe. O consultor financeiro Augusto Sabóia, de São Paulo, costuma dizer que basta o investidor economizar 300 reais mensais e aplicar esse dinheiro em qualquer investimento atrelado a uma taxa de juro de 0,8% ao mês para ter 1 milhão de reais ao final de 35 anos. Veja dez itens em que você pode poupar em 2010.


1 [Telefone fixo]
Quem tem mais de 40 anos certamente se lembra do tempo em que era preciso entrar na fila para conseguir uma linha de telefone fixo. Hoje, o telefone fixo é um acessório, ainda útil, mas dispensável. Em 2001, a fatia de domicílios no país com apenas o serviço de telefonia móvel representava 7,8% do total de linhas ativas. Em 2008 esse percentual saltou para 37,6%, que corresponde a 21,6 milhões de residências, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ou seja, dá para viver sem telefone fixo — e de quebra economizar uns reais. Em São Paulo, apenas para instalar a linha telefônica fixa o preço pode chegar a 114 reais e o aparelho sai, em média, por 75 reais. Uma opção mais barata é usar o Skype, um programa que permite fazer ligações telefônicas pela internet. Elas podem ser gratuitas, quando feitas entre números do próprio Skype, ou pagas, normalmente com valores bem reduzidos quando feitas para telefones fixos ou celulares. Acesse skype.com e faça o download gratuito.

2 [HD externo]
Entre os antenados em tecnologia (e os nem tão antenados assim, mas que adoram seguir os amigos trendies), adquirir um HD extra para armazenar fotos, música ou vídeos virou uma febre. O brinquedinho não é tão barato. Um HD externo básico, com 250 gigabytes, por exemplo, chega a custar entre 200 e 500 reais. Se você pode otimizar seu computador simplesmente eliminando arquivos desnecessários, para que gastar essa grana? Você pode guardar seus arquivos de fotos, vídeos e músicas nos sites DropBox e Skydrive, sem pagar nada. Acesse: dropbox.com e skydrive.live.com

3 [DVD]
Nos Estados Unidos, o DVD vem caindo em desuso. As pessoas continuam assistindo aos filmes novos, mas é cada vez mais comum comprar o filme pela TV a cabo ou baixá-lo da internet por meio de serviços como o NetFlix, a locadora virtual americana. Nos dois casos, o preço sai quase pela metade em relação ao custo de locação. Pense bem, se no ano passado você alugou quatro filmes por mês (em média, 8 reais cada um) e comprou cinco DVDs (em média, 20 reais por disco), em 2009 gastou aproximadamente 500 reais com um item em que poderia ter poupado pelo menos 50%. No Brasil, o portal Terra (terratv.terra.com.br) oferece gratuitamente 280 000 vídeos, entre seriados, filmes e transmissões esportivas inéditas. Outra opção é a locadora online NetMovies (somente para quem mora nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), que tem mais de 20 000 filmes em seu catalogo e cobra 15,90 reais por seu pacote básico, que oferece quatro filmes por mês. Ah, não há multa por atraso e a NetMovies entrega e recolhe o filme na sua casa.

4 [Todos os lançamentos]
Veja bem, ninguém está dizendo para você ler menos. Ao contrário: você pode adquirir mais livros e economizar até 50% na compra de um exemplar — se a escola do seu filho exigiu muitos livros, você vai conseguir poupar uma boa quantia. Se o que quer não é lançamento, os sebos online são uma ótima alternativa para encontrar o que você procura. Uma publicação que custa 40 reais em uma livraria é vendida online pela metade do preço. A Estante Virtual reúne 703 sebos e livreiros de 305 cidades. Acesse: estantevirtual.com.br

5 [CD]
Assim como o DVD, o CD, cujo preço médio é de 30 reais, vem se tornando um item de colecionador. Se em 2009 você comprou dez CDs singles ou seis duplos (média de 50 reais), desembolsou 300 reais sem necessidade (guarde dinheiro para as raridades que você não encontra na web). Na internet, há sites de compartilhamento de arquivos, nos quais é possível ter acesso às suas músicas preferidas. Além disso, os portais de algumas emissoras de rádio permitem baixar músicas. O Terra Sonora garante acesso gratuito a mais de 1 milhão de músicas todos os dias até as 20 horas. Há um plano que custa 24,90 reais por mês e permite downloads ilimitados de músicas. Acesse: sonora.terra.com.br e vagalume.com.br

6 [Filmadora compacta digital]
Há alguns anos, as filmadoras eram objeto de desejo. Hoje em dia, se o seu objetivo não é produzir vídeos profissionais, a filmadora pode ser substituída por uma boa câmera fotográfica digital, que sai por um terço do preço, considerando que uma filmadora digital básica custa 900 e a máquina fotográfica digital sai por 300 ou 350 reais.

7 [Combustível]
Se você tem um carro flex, que pode ser abastecido com álcool ou gasolina, faça uma conta simples para saber qual o combustível mais vantajoso. Multiplique o preço da gasolina por 0,65. Se o resultado for menor do que o preço do álcool, então vale a pena abastecer com gasolina. Se o resultado for maior, então é hora de abastecer com álcool. Para quem não tem carro flex, é preciso saber que o preço da gasolina é mais estável. Já o valor do álcool oscila de acordo com a safra e entressafra da cana-de-açúcar.

8 [Novidades]
Produtos eletroeletrônicos, de informática e roupas custam mais caro no lançamento. É que eles são substituídos por tecnologias novas ou por outra coleção em pouco tempo. Para pagar menos você deve esperar. Quem aguarda seis meses após o lançamento de um produto de informática economiza entre 20% e 25%. No caso de roupas, a economia pode chegar a 35%.

9 [Marcas líderes]
Quem compra produtos com marca própria de grandes redes pode economizar até 15%. “A diferença na qualidade das marcas líderes e alternativas diminuiu”, diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, consultoria especialista em bens de consumo e varejo.

10 [Ar-condicionado]
Se você não mora no Norte ou Nordeste do país, pode poupar cerca de 1 000 reais na compra de um ar-condicionado. Saiba que existem maneiras de arejar sua casa gastando pouco. Trocar as lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, cultivar plantas dentro de casa e trocar a cortina da sala de cor escura por uma de cor clara são ajustes que vão deixar o ambiente bem mais fresquinho.

Fonte: Você S/A por Érica Martin